Estive pensando muito depois que eu estive na festa da Raquel, mina do meu irmão, lá estava ela fazendo 16 anos, e eu, um dia antes, tinha feito 24. Retrocedi no tempo ouvindo todas aquelas conversas de escola, onde eu estava com 16 anos? Quais eram minhas dúvidas? O que eu queria? Ouvi muito sobre vestibular, sobre o despertar do desejo ou da vida sexual de alguns, sobre tudo sobre o nada, mas principalmente ali havia muitas dúvidas, toneladas de dúvidas.
Eu tive e tenho ainda muitas dúvidas. O que responder para o seu filho(a) quando ele vira e te pergunta: "Pra que serve a escola pai?" ou "P/q eu tenho que ir pra escola?" ou ainda "Eu odeio (insira sua matéria aqui) p/q eu tenho que estudar isso? Difícil obter uma resposta.
O pior então é tentar figurar um futuro quando a pergunta se inverte. "Filho(a) o que você vai ser quando crescer?" Esperar uma resposta séria e convicta aos 17, 18 anos, com uma tonelada de dúvidas na cabeça e uma decisão enorme por vir é infeliz. A pergunta é a mais covarde e desleal que poderia existir.
Não sou eu quem digo. Pergunte para qualquer um em fase de pré-vestibular, final de 2º e começo de 3º ano colegial. Eu apenas ainda lembro da sensação da obrigação de ter que acertar uma mosca voando um único tiro dado escuro enquanto minha cabeça roda.
O que você respondeu? O que você ouviu? Eu ouvi que eu precisava ir para a escola por diversos motivos, mas nenhum deles foi pra que creio servir realmente a escola. Me disseram que eu deveria estudar as matérias para ser alguém na vida, eu tinha que tirar 10 em tudo porque pessoas inteligentes conseguem ter um bom emprego. No fundo tudo o que eu recebia era ter um "porque sim" maquiado como resposta. E eu aprendi na TV, no Castelo Rá-Tim-Bum, um programa realmente educativo que "porque sim", definitivamente não é resposta.
Discuti sobre educação esses dias com meus amigos. Um sentimento que tive enquanto passeava pelos terrenos limítrofes do meu consciente. Concluí que eu nada aprendi na escola. Aliás aprendi, aprendi que a escola pra nada serve se você não sabe explicar o por que de estar ali, por que se deve estudar.
Hoje tenho certeza que a escola deveria ter me ensinado o que elanão me ensinou mas cobrava. A escola deveria ter me ensinado a viver. Matemática, Português, Química, Literatura, Física, Redação, Biologia, Artes, História, Geografia, Estudos Sociais. Ferramentas maravilhosas que foram jogadas no lixo. Tudo isso inútil porque não havia contexto. Não havia sentido. Poucos foram os professores que me deram exemplos reais, da minha vida para ilustrar o porque daquilo que eles estava colocando na lousa. E eram essas aulas que me faziam pensar, que me davam exemplos, que eu mais gostava.
Conversando com dois amigos meus professores eu fiquei muito apreensivo com o futuro da escola, da nossa educação, do círculo de frustração de nossos descedentes. Nunca me explicaram como uma criança que nunca foi na escola consegue se sair tão bem em algumas atividades que eu achava que só quem tinha frequentado uma escola (de preferência particular, onde eu sempre estudei) poderia realizar.
E toda a vez que eu perguntava a resposta era: "Ah, mas ele é diferente, ele tem um dom." O divino sempre foi a saída mais fácil para os ignorantes porque Deus nunca pôde ser contestado. E assim eu fui criado, acreditando em dons. O problema é que chega uma hora em que você quer descobrir qual é o seu dom e ninguém te sabe dizer onde ele está. Mas dizem que ele está dentro de você, mas só você pode descobrir.
Hoje esse tipo de resposta me dá nojo. Não é mais digno dizer que não sabe? Adultos tem a mania de parecerem mais inteligentes e sábios do que realmente são com medo de serem humilhados. Acho que ainda não cheguei nesse ponto mas eu me lembro bem que nas vezes que eu entrava em uma "conversa de adultos", com professores, familiares, profissionais e especialistas da área, com sólidos e plenos argumentos para sustentar minhas idéias, o que finalizava minha lógica perante os outros era "Você tá na escola ainda, tem muito o que aprender sobre isso" ou "Quantos anos você tem mesmo? Ah, foi o que eu pensei, você é só uma criança".
Esse comportamento só foi sustentado pelo casal de amigos professores meus. Não, eles não dão esse exemplo, mas me confessaram que muitos dos professores, tanto da rede pública, quanto privada do ensino fundamental e médio são incapazes de pensar. Eles simplesmente se afundam na matéria deles que é impossível discutir com um professor de inglês sobre a crise de honduras por exemplo. Muitos nem vão saber o que é, disse minha amiga.
Mas que tipo de sociedade de fachada é essa que nós vivemos afinal? Nos primórdios da escola o valor da vida era ensinado mais corretamente que hoje em dia com milhares e milhares de computadores interplugados. Digo isso por mim. Os gregos antigos tinham suas escolas, seus discípulos eram ensinados a pensar. Peguem na wikipedia um trecho dos ensinamentos de aristóteles para um escravo e veja a qualidade da didática que era aplicada.
Ah mas nós não vivemos antigamente. Não mesmo. Quer algo mais recente? Veja as ideologias da Maria Montessori, Paulo Freire, Jean Piaget, cito até Augusto Boal que ensinava através do teatro. O quanto disso é realmente aplicado? Eu posso dizer que aprendi muito mais fora da escola como por exemplo no teatro, nas artes, na TV, no video-game e nos esportes do que na escola. Minha escola nada mais era do que uma prisão que enclausurava não só minhas idéias como também o corpo sempre enclausurado na postura sentada e atenta, aí de quem levantasse ou dormisse.
Perguntem aos meus amigos de escola quais os melhores trabalhos? Os que mais marcaram? O Giba tem na memória dele um trabalho nosso sobre o Queen que foi apresentado como um musical até hoje. Aquele trabalho me ensinou muito mais do que se imagina em um primeiro momento. A interpretação de "I Want To Break Free" me ensinou inglês, me ajudou a formar idéias sobre a sociedade e o preconceito, sobre o homossexual, sobre liberdade de expressão, sobre a ideologia pseudo-neo-liberal que a sociedade brasileira vive.
Nunca me esquecerei de uma aula de história na 5ª série que foi dada no pátio da escola em um semi-círculo, foi minha primeira experiência "lésbica" pois era assim que se ensinava na Ilha de Lesbos na Grécia, em semi-círculos para que todos pudessem ver e aompanhar. E das aulas de matemática da 3ª e 4ª série que eram dadas não pela professora Maria José, mas sim pelo "Juquinha" a marionete de mão feita por ela. O que impede os professores de fazerem isso?
O que impede que essas "classes" sejam abolidas e as aulas sejam vividas ao invés de ensinadas? O que impede que uma aula criativa seja dada a adolescentes, afinal de contas adolescentes não precisam mais de marionetes, ou de vozes em falsetes para se entreter. Ensinar deveria ser mais fácil.
E a solução não é o extra-classe só, é o método, a linguagem. Eu tive aulas sacais no lugar que eu mais adorava de toda a escola que era o anfiteatro. As aulas de educação sexual então me deixavam extremamente constrangido pois era sempre com um vídeo ridículo feito em 1978 sobre educação sexual. A linguagem defasada e idiotizante era péssima, o "fundão" zoava o filme do começo ao fim e no fim, a única coisa boa do filme é que uma parte era animação e eu viajava em como seria a técnica que fazia aqueles desenhos se movimentarem.
Sobre sexo daquele filme nada aprendi. Aprendi mais sobre sexo vendo novelas das 8h, lendo Cláudia, Nova Cosmopolitan, Capricho, assistindo filmes pornôs escondido e confesando fantasias nos intervalos do colégio. E Não. Playboy não ensina quase nada sobre sexo propriamente dito, ensina mais sobre nudez artística-comercial, política e piadinhas de gosto duvidoso do que qualquer outra coisa.
Eu via e ainda vejo hoje a escola como formadora de jovens zumbis prestadores de vestibulares. Esse pensamento meu é antigo, eu desenhei isso numa sala de aula em 2002 no 3º colegial. A professora viu meu desenho. Me repreendeu, não rasgou meu desenho porque eu não deixei. Nessa época minha escola era um lugar que eu ia sonhando com as férias. Mas isso é o sonho de todos os alunos. Não havia nada atrativo e dos meus amigos que mudaram de colégio eu sentia. Nada tinha mudado. O que é estarrecedor, escola deveria ser um lugar legal, um lugar que dê prazer de conhecer, de estudar, como muitos vêem e fantasiam o que será a faculdade. Porém antes disso, a escola deveria me ensinar a viver.
Viver para escolher melhor que caminho seguir. Se não porque não me colocaram na faculdade direto? Tudo que eu aprendi lá foi tão novo que talvez eu não precisasse da escola além do que eu aprendi na 8ª série. Tudo o que eu preciso até hoje para fazer os meus trabalhos profissionais são tarefas elementares aplicadas de um modo muito mais sofisticado. Mas entendem o meu ponto de vista?
Minhas aulas mais importantes e que eu mais gostava eram as com menos cargas horárias, Literatura, Redação, Artes e Educação Física (ambas só 2 vezes ao mês) infelizmente meus professores tb não estavam aptos para ministrar esses tipos de aula. Eram as únicas aulas em que era permitido desenvolver, exprimir e aplicar minha criatividade, mas não havia guia. Não havia como identificar algum talento meu ou de qualquer um dos meus colegas.
"Ah! Mas você tem facilidade para humanas." Para mim pareceu mais fácil porque a minha realidade era melhor aplicada nessas convivências sociais, mas eu sou um matemático frustrado. Eu amo lógica, eu amo matemática, infelizmnte eu só fui entender estatística, porcentagem e probabilidade no 3º colegial nas minhas aulas de... biologia! Na biologia eu entendi porque isso existia e a importância.
Será que meus professores de matemática não entenderam que aos 16 anos aprender Binômio de Newton não queria dizer nada, mas que se fosse apresentado como uma fórmula matemática para calcular a probabilidade de você ter ficado com uma mina que seu amigo já ficou em determinada festa/classe/bairro/cidade etc seria muito mais interessante?
Penso muitas vezes que mais afortunados no ensino são aqueles com menos condições que viveram para aprender e não pagaram para serem ensinados. Há uma diferença brutal nisso. Esses pelo menos também aprenderam a pensar de um modo diferente. São menos zumbis do que muitos, que nunca aprenderam a se humanizar.
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